Sendo o sucesso uma condição transitória no tempo, podemos começar nossa indagação por este caminho: Que motivos nos levam a perseguir algo extremamente fugaz? Aliás, antes disso: O que é "sucesso"? A título de argumentação, vamos pressupor que a busca do "sucesso" faz-se presente em todas as sociedades humanas, contudo, para realizar a análise desse conceito, vamos abordá-lo somente dentro da perspectiva ocidental contemporânea, na qual é a que nos encontramos e podemos falar com certa legitimidade.

No modo de pensar ocidental, o sucesso tornou-se uma medida de valor extremamente excludente; possui-lo é, logo de início, ver as barreiras sociais sendo facilmente transpostas, e quem não o possui vê estas mesmas barreiras acrescidas de preconceitos e juízos de valor. Às vezes, o profissional tem sua capacidade e qualificação, perante o seu ofício, questionadas. Mas, será que a capacidade e a qualificação profissional caminham na mesma medida da aquisição do "sucesso", como este é vulgarmente entendido? Nossa resposta é um peremptório não.

O sucesso, em nossa sociedade hodierna, desvela-se como algo criado, ou melhor, um certo tipo de ideologia proveniente da elaboração intelectual de grupos hegemônicos que detêm os meios de comunicação, engendrando modelos de sucesso e, em igual medida, inculcando na população a necessidade dessa abstração. O "sucesso", recebendo este dimensionamento da mídia, torna-se a medida determinante para quase todo empreendimento humano.

Esses mesmos grupos hegemônicos, em relação ao universo musical, ainda propõem à população a retórica de que se estão divulgando "músicas" realizadas pela população, ou seja, música popular, velando o caráter industrial de seus produtos musicais.

Ora, mas o que é o "sucesso"? Ainda analisando pela perspectiva dos meios de comunicação, podemos entendê-lo como sendo uma abstração tão valiosa quanto qualquer objeto sensível que nos dá prazer, desejável a ponto de ser cobiçado a qualquer preço, mesmo que os "meios" para alcançá-lo passem por algum tipo de velamento. Nesse jogo de sedução, as fábricas dos ídolos se especializam cada vez mais na arte do grotesco; os caçadores de "vítimas" são verdadeiros alquimistas transformando metais de baixa qualidade em ouro. Mas por que vítimas? Sim, vítimas, pois os músicos não se dão conta que são apenas peças descartáveis, substituíveis quando já não são mais úteis para o perfeito funcionamento do sistema – sistema que atua como uma máquina trituradora das potencialidades criativas inerentes a todos os artistas. Os possuidores do aparente sucesso somente se dão conta de sua fragilidade quando resolvem pedir a sua "carta de alforria", quando pretendem pensar sobre os caminhos de sua "arte". Aí já é tarde, a vítima está contaminada pela sedução do "sucesso".

O artista, com medo de perder o "sucesso" conquistado, torna-se um ser subserviente da indústria cultural, um ser dócil e frágil, aceitando a sua aniquilação como um artista responsável e consciente das implicações sociais da sua arte, pagando qualquer preço para manter-se visível perante a massa de consumidores.

É desse modo que o "sucesso" (para muitos) depende de uma "apropriação", ou seja, garantir um espaço junto aos meios de comunicação em massa, para que o pretendente ao sucesso crie uma relação de existência perante um público que, por sua vez, é ingenuamente levado a crer na qualidade do que lhe é imposto e na capacidade do seu ídolo. Portanto, em algumas profissões (como é o caso dos "operários" da música industrial), ter sucesso é aparecer na mídia; aparecer no sentido mais comum do termo, aparecer mesmo não se importando em ser mais um fantoche da indústria cultural. É desse modo que a busca pelo sucesso está freqüentemente permeada pelo não-ser.

Portanto, o operário da música industrial, buscando o sucesso para a satisfação do seu ego, bem como por motivações socioeconômicas, suplanta a essência de viver a sua arte; o lento processo de formação de um artista, pois como nos diz Fischer:


Para conseguir ser um artista, é necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória, a memória em expressão, a matéria em forma. A emoção para um artista não é tudo; ele precisa também saber tratá-la, transmiti-la, precisa conhecer todas as regras, recursos, formas e convenções com que a natureza – esta provocadora – pode ser dominada e sujeita à concentração da arte.


A experiência de ser um artista-criador é um longo processo de aprendizagem, envolvendo o conflito, a dominação de suas emoções, os fracassos iniciais na tentativa de expressar-se por uma linguagem não-verbal (como é o caso da música instrumental) e, antes de tudo, envolvendo um profundo conhecimento da matéria-prima de que dispõe para criar a sua arte (lembramos que a matéria-prima da música é o som). Contudo, os alquimistas da indústria cultural, forjando artistas em caráter industrial somente para engordar cada vez mais suas contas bancárias, já obesas, embotam o lento processo de interiorização das experiências vividas, da lenta formação de um músico-criador e consciente da sua forma artística.

Precisamos entender que o processo de amadurecimento deste músico é lento, mas é desse modo e, somente desse modo, que o artista-criador poderá fazer emergir uma obra com força expressiva e emancipadora. O sucesso será a plena realização das idéias musicais provenientes de todo este processo, para que a sua música seja uma expressão legítima e não apenas um produto musical.

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